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Uma lição andina: o que o Chile nos ensina sobre comércio internacional

30 de abril, 2025 Por: Martin Iglesias, CFP® - Especialista Líder em Recomendação do Itaú

Diretamente do Chile, Martin Iglesias traz reflexões sobre a abertura econômica do país – relacionando com os dias atuais.

Sou chileno. E sempre que possível, volto à minha terra. Não apenas por um impulso natural de reencontro com minhas origens, mas porque há algo na paisagem que me fala mais fundo, que me atravessa com a delicadeza da saudade: a cordilheira. Ver a Cordilheira dos Andes coberta de neve, imponente como guardiã dos sonhos do continente, é como rever uma parte de mim mesmo que fica adormecida enquanto estou longe.

Pablo Neruda, com a força dos poetas que sabem condensar mundos em poucas palavras, uma vez chamou o Chile de “uma longa pétala de mar, vinho e neve”. E é exatamente assim que o sinto: estendido entre extremos, cheio de contrastes, mas também de coerência. Um país que soube se reinventar, que encontrou no comércio internacional não uma ameaça, mas uma ponte para o desenvolvimento.

Nesta viagem, além do reencontro afetivo e estético, voltei a pensar no papel do Chile como exemplo de abertura comercial na América Latina — especialmente em um momento em que o mundo parece flertar, perigosamente, com o protecionismo.

Enquanto muitas economias latino-americanas enfrentaram décadas de isolamento e tarifas elevadas que dificultaram o acesso a mercados globais, o Chile seguiu um caminho diferente. Desde os anos 1970, adotou uma política clara de abertura ao comércio exterior. Hoje, é um dos países mais conectados comercialmente do mundo, com mais de 30 acordos de livre comércio, abrangendo cerca de 65 países — incluindo potências como Estados Unidos, União Europeia, China, Japão e Coreia do Sul, além da Aliança do Pacífico (com Colômbia, México e Peru), do CPTPP (Parceria Transpacífica) e da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA).

Essa estratégia deu frutos. Segundo dados do Banco Mundial, o PIB per capita do Chile em 2022 foi de cerca de US$ 16.000, um dos mais altos da região. Para efeito de comparação, o Brasil teve cerca de US$ 9.000, a Colômbia US$ 7.000, e a Argentina, com todos os seus altos e baixos, ficou próxima de US$ 10.000. Além disso, o Chile apresenta uma das maiores participações de comércio exterior em relação ao PIB da América Latina.

Essa abertura permitiu ao país não apenas exportar o cobre, seu principal ativo, mas também diversificar sua pauta com frutas, vinhos, salmão, celulose e até serviços. Além disso, ajudou a atrair investimentos estrangeiros, melhorar a produtividade e integrar-se às cadeias globais de valor. Um país pequeno em população e distante dos grandes centros, mas que compreendeu que o mundo não é uma ameaça, e sim uma oportunidade.

O comércio, quando bem regulado e praticado de forma justa, beneficia todos os envolvidos. Ele amplia o leque de produtos para o consumidor, estimula a competitividade e o avanço tecnológico, e cria incentivos para a cooperação internacional. Fechar-se ao mundo, pelo contrário, é como tentar crescer em uma sala sem janelas: falta ar, falta horizonte.

Mas confesso que fico inquieto ao ver as recentes disputas comerciais entre grandes potências, as tarifas sendo erguidas como muros e a retórica do nacionalismo econômico ganhando espaço. São sinais de uma possível regressão — e é aí que me volto, de novo, à literatura.

No final de O Grande Gatsby, um dos meus livros favoritos, F. Scott Fitzgerald nos oferece uma das frases mais lindas e melancólicas da literatura: “E assim prosseguimos, barcos contra a corrente, arrastados incessantemente de volta ao passado.” Publicado originalmente em 10 de abril de 1925, o livro acabou de completar 100 anos. Sempre que volto ao Chile, há algo desse movimento: um retorno ao passado, sim — mas carregado de sentido, de identidade, de lembrança.

O que não podemos permitir é que a economia global faça esse mesmo movimento — mas por medo, por desconfiança, por fechamento. Que as guerras de tarifas não nos arrastem de volta a um mundo fechado, onde cada país rema contra a corrente sozinho.

O Chile nos mostra que abrir-se ao mundo não significa perder-se — pelo contrário, pode ser o caminho para nos encontrarmos com o futuro.

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