Em seu artigo desse mês, Martin Iglesias faz importantes reflexões sobre o Ibovespa, seu indicador Preço/Lucro e como avaliar o índice de forma mais abrangente e racional.
A bolsa se aproxima dos 140 mil pontos.
Para alguns, isso soa como um sinal de chegada. Para outros, como um aviso para descer do trem. Há quem veja um número redondo e pense em realização. Há quem veja o mesmo número e pense em continuação. Porque no mercado — como na vida — o significado de um número depende da história que o acompanha.
O número em si é só isso: um número. Isolado, diz pouco. A idade, por exemplo: 40 anos pode parecer a maturidade para uns e o começo da crise para outros. No mercado, o Ibovespa a 140 mil pontos pode soar como bonança ou como bolha, dependendo da lente que se escolhe.
Mais revelador do que o placar é o desempenho do time. E, no mercado, o desempenho se mede por fundamentos. Um dos mais importantes — e frequentemente ignorado em tempos de euforia — é o índice Preço/Lucro (P/L). Ele mostra quanto o investidor está pagando hoje por cada real de lucro projetado. Se uma Ação custa R$ 20 e a empresa lucra R$ 2 por ação, o P/L é 10. Ou seja, leva-se 10 anos para reaver o investimento, assumindo lucros constantes. Claro que há nuances — crescimento, riscos, dividendos — mas, como métrica simples de valor, o P/L é poderoso.
No caso do Ibovespa, esse número está hoje em torno de 8. A média histórica brasileira gira em torno de 11. E, nos Estados Unidos, índices como o S&P 500 trabalham perto de 20 vezes lucro. Em outras palavras, o mercado brasileiro está barato — ao menos na aparência.
Mas preço baixo não é sinônimo de oportunidade, assim como febre baixa não garante saúde. Há razões para o desconto: incertezas fiscais, riscos jurídicos, instabilidade regulatória, vulnerabilidade externa. Somos um país que já viveu tablita, hiperinflação, confisco e pandemia. A memória coletiva carrega traumas. E os investidores cobram um preço — ou melhor, um desconto — por isso.
Esse é o ponto delicado: estar barato pode significar subvalorização… ou risco elevado. Às vezes, é os dois. E é por isso que olhar apenas a pontuação do Ibovespa pode nos enganar. O número absoluto — 140 mil — é só uma moldura. O quadro real se vê no detalhe: margens, crescimento, governança, cenário macro.
O investidor atento entende isso. Sabe que os números redondos criam âncoras emocionais, como mostram os estudos de finanças comportamentais. Achamos que 100 mil é um piso e 140 mil, um teto. Mas essas percepções são arbitrárias. O que importa mesmo é o valor que há dentro das empresas — e o preço que se está pagando por esse valor.
Talvez o índice siga em alta. Talvez recue. Mas, mais importante do que prever a direção é entender a jornada. O P/L em 8 não garante nada, mas convida à reflexão. Está barato? Sim. Está fácil? Jamais.
Porque, nos mercados como na vida, não é um número que revela o valor – é a história que ele carrega.
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