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Veredas de um ano surpreendente

11 de dezembro, 2025 Por: Martin Iglesias, CFP® - Líder em Recomendação de Investimentos do Itaú Unibanco

Em seu novo artigo, Martin Iglesias faz uma retrospectiva do mercado em 2025 e traz perspectivas para 2026 – com um belo toque literário.

 

Há um momento em Grande Sertão: Veredas em que Riobaldo observa que viver é muito perigoso. Não como lamento, mas como reconhecimento de que a vida se desenrola por veredas incertas, capazes de revelar tanto ameaça quanto descoberta. No universo de Guimarães Rosa, o inesperado faz parte da ordem natural das coisas; por isso, muitos sintetizam o espírito do livro na ideia de que, às vezes, o imprevisto acaba se transformando em sorte.

Essa filosofia descreve bem a trajetória de 2025. Quando 2024 terminou, o mercado financeiro brasileiro era marcado por preocupação inflacionária doméstica, pressionada pelo câmbio que havia encostado em R$ 6,30, e por uma bolsa depreciada, reflexo de ruídos fiscais e incertezas políticas. O cenário global, por sua vez, carregava o temor de uma desaceleração mais forte da economia americana, capaz de enfraquecer lucros, fluxos e apetite por risco. Não era um ambiente hostil, mas certamente inquieto.

E então chegou 2 de abril, o dia que intensificou esse quadro. A discussão sobre tarifas norte-americanas, que já existia no radar desde 2024, ganhou força e contornos mais agressivos. O mercado reagiu rapidamente, aumentou o prêmio de risco, emergentes sofreram e cresceu o receio de que uma nova rodada de tensões comerciais pudesse comprometer o crescimento global. Os temores do fim de 2024 não foram substituídos, mas reforçados. A travessia parecia mais árida do que qualquer projeção havia sugerido.

Mas, como no sertão rosiano, a realidade abriu caminhos inesperados. Após negociações, as tarifas efetivamente adotadas ficaram bem abaixo do que se temia originalmente. A economia americana manteve-se firme e com a inflação cedendo lentamente, a inflação brasileira perdeu força com velocidade surpreendente e passou a apontar para um encerramento do ano dentro da banda da meta. O petróleo permaneceu estável ao redor de 60 dólares o barril, fornecendo uma âncora silenciosa para expectativas globais. O dólar enfraqueceu no mundo, o Banco Central brasileiro manteve firme sua postura técnica e os mercados reagiram: a B3 acabou atingindo máximas históricas, um desfecho que poucos imaginavam na virada de 2024.

Assim como Riobaldo, que só compreende sua travessia ao olhar para trás, nós também reconhecemos que 2025 foi melhor do que se projetava no fim de 2024 e, sobretudo, naquele turbulento 2 de abril. Com a inflação convergindo, o debate natural passou a ser não se haverá corte de juros em 2026, mas em qual momento do primeiro trimestre do ano o ciclo começará. Os mercados, a vida e o sertão compartilham uma lógica semelhante: raramente obedecem ao roteiro, mas às vezes entregam exatamente o improvável.

E agora voltamos os olhos para 2026. Haverá volatilidade e poeira no caminho, com eleições no Brasil, transição no Banco Central americano, debates fiscais e desafios externos ainda desconhecidos. Mas Rosa nos lembra que a travessia não pede garantias, e sim lucidez, coragem e movimento.

Se 2025 mostrou que o inesperado pode trabalhar a nosso favor, 2026 nos convida a seguir adiante com esse aprendizado. Há riscos, mas também veredas abertas. E existe espaço legítimo para um otimismo sereno: o de que o próximo capítulo pode, mais uma vez, ser melhor do que imaginamos agora.

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