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O ouro e as preocupações que brilham

20 de outubro, 2025 Por: Martin Iglesias, CFP® - Líder em Recomendação de Investimentos do Itaú Unibanco

Em seu novo artigo, Martin Iglesias traz reflexões relevantes sobre o comportamento desse metal precioso – e como ele reflete diversos outros fatores da economia.

 

O ouro voltou a brilhar. E não é metáfora: o metal atingiu novos recordes em 2025, mesmo num mundo com bolsas nas máximas, economias crescendo e inflação relativamente controlada. A pergunta é inevitável: por que o ouro tem subido tanto?

Milton Friedman (ganhador do Nobel em 1976) dizia que o ouro é uma reserva de confiança. Seu valor não vem de fluxos de caixa, mas da memória coletiva da escassez e da sobrevivência. Quando os investidores duvidam das promessas da política monetária, recorrem ao ouro como quem volta a uma casa antiga que resistiu a todas as tempestades.

Já Didier Sornette e Peter Cauwels mostraram que o ouro reflete ciclos emocionais coletivos. Ele sobe quando o medo se espalha – medo da inflação, da dívida, da guerra ou da incerteza. É o ativo que dá forma ao pânico, o barômetro psicológico de uma civilização financeirizada. O ouro é, por natureza, uma narrativa sólida em tempos líquidos.

Essa mistura de racionalidade e instinto é o que Nassim Taleb chamaria de antifragilidade. O ouro não apenas resiste ao caos, ele se fortalece com o caos. Não promete rendimento, não distribui dividendos, não depende da palavra de governos. Ele apenas existe, e na sua imobilidade, inspira confiança.

Enquanto o mundo cria tokens, moedas digitais e estratégias algorítmicas, o ouro permanece imóvel, brilhando pelo mesmo motivo de sempre: porque é raro e aceito. Friedman o via como o preço da desconfiança; Taleb o descreveria como o prêmio da humildade, um lembrete de que nem tudo pode ser modelado em Excel.

O movimento recente do ouro nasce desse paradoxo. Vivemos uma era de abundância monetária e escassez de confiança. Com disputas comerciais e governos que acumulam dívidas trilionárias, investidores preferem guardar valor em algo que não precisa de balanço auditado nem de guidance trimestral.

Há fundamentos: compras de bancos centrais, tensões geopolíticas e fluxos vindos de ETFs. Mas, no fundo, o que move o ouro é a psicologia coletiva da preservação. E quanto mais complexo o sistema financeiro se torna, mais o ouro cresce como seu oposto necessário, a simplicidade que protege da complexidade.

O ouro continua sendo o espelho mais honesto das nossas incertezas. Quando o mundo duvida, ele brilha. Quando o tempo é de confiança, ele repousa. Talvez não exista ativo mais simples, nem metáfora mais precisa, para lembrar que o valor, no fim, é sempre uma questão de fé.

 

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