Martin Iglesias abre o mês de agosto no Feed de Notícias destrinchando essa fama do mês – e trazendo reflexões importantes tanto para quem já investe quanto para quem ainda não começou.
Foi numa manhã de inverno que me peguei pensando na fama de agosto. Mês do desgosto, do cachorro louco, da renúncia de Jânio, do silêncio de Getúlio, das más notícias que teimam em chegar antes da primavera. Um mês que já nasceu com um destino poético, trágico e supersticioso.
E, como toda boa superstição, ganhou rima, repetição e respeito.
Afinal, pouca gente casa em agosto.
Mas se agosto é o mês do desgosto, o mercado financeiro não precisa de calendário para nos lembrar que desgosto é coisa de todo dia se investirmos sem atenção.
Há desgosto na pressa.
Naquela ansiedade que empurra o investidor para o ativo da vez, sem tempo de perguntar o porquê. Ele entra, aplaude, sorri — mas o mercado não é teatro. Não perdoa a plateia desatenta. Quando a cortina cai, é tarde demais.
Há desgosto no improviso.
Na carteira que se monta com dicas de almoço, fóruns de redes sociais e vídeos de quinze segundos. Desgosto que vem disfarçado de coragem, mas é só falta de plano.
Há desgosto na solidão de um portfólio concentrado.
Como se o mundo coubesse em um único papel, em um único país, em uma única tese. A diversificação não é charme acadêmico, é o abrigo na tempestade. E agosto, às vezes, traz nuvens que ninguém previu.
Há também o desgosto que não dói agora, mas pesa depois:
O de quem não investe, por medo, por dúvida, por esquecimento. E, quando percebe, o tempo já foi. Porque o tempo, como o mercado, não espera.
No fim das contas, talvez agosto não tenha culpa de nada. Talvez ele apenas escancare o que o investidor esqueceu de fazer nos outros meses. E, se for verdade que todo desgosto ensina alguma coisa, agosto também pode ser um bom mês para reavaliar, rebalancear, respirar.
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