Em seu novo artigo, Martin Iglesias faz um interessante paralelo histórico – e mostra como a IA já está presente no mercado de investimentos.
Foi num 14 de julho como este, em 1789, que a Bastilha caiu.
A antiga prisão, símbolo do absolutismo francês, foi tomada por uma multidão que já não aceitava o mundo como estava. Não se tratava apenas de libertar prisioneiros — eram poucos. Tratava-se de quebrar uma estrutura. De desafiar a centralização do poder. De abrir espaço para um novo tipo de sociedade.
Toda revolução começa assim: com insatisfação, rupturas simbólicas e uma promessa de recomeço.
Séculos depois, sem sangue nem baionetas, vivemos outra queda de muros. E, novamente, muitos ainda não perceberam o tamanho da transformação. A Inteligência Artificial generativa — essa mesma que gera vídeos e imagens, programa códigos e responde perguntas — chegou como um agente silencioso, mas já começou a reconfigurar tudo ao seu redor.
Se a Bastilha era feita de pedra, a nova fortaleza que está sendo desafiada é feita de exclusividade intelectual. Durante muito tempo, quem dominava as palavras, os códigos e as fórmulas mantinha uma posição de poder. Criar imagens, roteiros, relatórios — tudo isso era trabalho de especialistas.
Mas, de repente, modelos treinados em trilhões de parâmetros começaram a escrever ensaios, revisar contratos, gerar vídeos, criar apresentações, propor estratégias de marketing, fazer análises profundas, automatizar e até corrigir códigos. Profissões que antes pareciam à prova de obsolescência tecnológica — como jornalistas, roteiristas, programadores, advogados e professores — passaram a conviver com uma nova realidade: a de ter como colega (ou concorrente) uma máquina capaz de gerar conteúdo original em segundos.
Isso é uma ruptura. Uma Bastilha intelectual sendo tomada por quem nunca teve acesso aos salões da erudição tradicional.
E como sempre ocorreu nas grandes revoluções tecnológicas — da máquina a vapor à internet —, o impacto não se restringe ao mundo do trabalho. Ele se estende à produtividade, ao crescimento econômico e, inevitavelmente, aos mercados financeiros. As grandes ondas de inovação estão entre os principais motores de valorização das ações no longo prazo. A IA generativa pode acelerar o ciclo de crescimento de empresas, reduzir custos de produção, abrir novos modelos de negócio e redefinir setores inteiros. É por isso que os investidores mais atentos não veem apenas uma ameaça, mas uma oportunidade — ainda difícil de precificar, mas impossível de ignorar.
No mercado financeiro, os impactos já se fazem sentir. Modelos de IA são utilizados para gerar análises prévias, relatórios automatizados, insights em linguagem natural, assessorar decisões de investimento a partir de bases de dados gigantescas. Plataformas de atendimento integram IA generativa com sistemas internos. Ferramentas de programação assistida como Copilot reduzem o tempo de desenvolvimento em semanas. O analista que antes perdia horas formatando uma apresentação agora pode se dedicar ao raciocínio estratégico.
Não se trata de glorificar a tecnologia. Nem toda revolução cumpre suas promessas. A Queda da Bastilha também levou a novos autoritarismos antes de consolidar uma república. E a IA generativa pode ampliar desigualdades, gerar desinformação e aprofundar dependências se for usada sem consciência.
Mas ignorá-la seria como tentar esconder o som das pedras sendo arrancadas do muro.
O 14 de julho é um lembrete: ordens estabelecidas caem. Às vezes com estardalhaço, às vezes com um clique.
E estamos, de novo, diante de um momento em que estruturas antigas — desta vez, de produção intelectual — estão sendo desafiadas. Que lado da história cada um quer ocupar?
Quer conferir mais conteúdos e análises exclusivas do mercado financeiro?
Baixe o app e acesse o Feed de Notícias do íon. É só escanear o QR Code ou clicar nos botões abaixo.

Conteúdo informativo obtido de fontes consideradas confiáveis, com base em conhecimento prévio, opiniões, dados e probabilidades e, portanto, sem caráter de recomendação de investimento. Na criação deste conteúdo, não são consideradas as características ou necessidades dos investidores ou grupos específicos. O íon não se responsabiliza por perdas, danos, custos, lucros cessantes ou opiniões expressas pelos editores dos conteúdos deste aplicativo e demais canais de comunicação, tampouco garante uma cobertura completa dos mercados e de todos os fatos ocorridos. O mercado de renda variável é considerado de alto risco, porque pode sofrer grandes oscilações causadas por alterações políticas e econômicas, entre outras. O mercado de Renda Fixa não é isento de riscos, que são representados, principalmente, pelos riscos de crédito do emissor, iliquidez e alterações político-econômicas, no Brasil ou exterior, dentre outros. Essa é uma comunicação geral sobre investimentos. Antes de contratar qualquer produto, confira sempre se é adequado ao seu perfil.

