O Oráculo de Omaha publicou sua última carta. E o que podemos aprender com este grande investidor? É sobre isso que Martin Iglesias fala em seu novo artigo.
Há figuras que ultrapassam a fronteira entre o mundo financeiro e a cultura. Warren Buffett é uma delas. Ao longo de sete décadas, o “Oráculo de Omaha” transformou a arte de investir em algo que combina racionalidade, filosofia e uma certa poesia pragmática, sempre entregue com humor, simplicidade e uma convicção quase desarmante de que o bom senso ainda é o bem mais escasso nos mercados.
Mas, se há uma herança que atravessará gerações muito além dos seus retornos extraordinários, são as suas cartas anuais aos acionistas da Berkshire Hathaway. Não são relatórios; são aulas. Não são balanços; são confissões honestas de um investidor que se recusa a dourar a pílula. E não são textos motivacionais; são mapas mentais que moldaram a forma como o mundo pensa em alocação, risco, valor e comportamento.
Buffett sempre escreveu como viveu, com clareza, propósito e responsabilidade. É essa combinação que transformou suas cartas em literatura obrigatória para gestores, estudantes e curiosos sobre a alma dos mercados.
O homem por trás das cartas
Nascido em 1930, em Omaha, Buffett nunca escondeu sua paixão precoce pelos números. Na adolescência, já fazia pequenos negócios e discutia ações com amigos enquanto entregava jornais. Encontrou sua bússola intelectual nos ensinamentos de Benjamin Graham, o pai do value investing, e mais tarde refinou essa visão sob a influência de Charlie Munger, seu parceiro de meio século.
Mas foi na Berkshire que Buffett construiu seu império. Com a paciência dos antigos comerciantes e a disciplina de um engenheiro, ele transformou uma fábrica têxtil decadente em um conglomerado de centenas de bilhões de dólares. Fez isso comprando negócios inteiros, investindo em pessoas extraordinárias e nutrindo a rara capacidade de ficar parado enquanto o mundo corria na direção errada.
Resultados que contam uma história
A performance fala por si. Desde 1965, a Berkshire multiplicou seu valor por mais de quatro milhões por cento. Para comparar, 10 mil dólares investidos com Buffett no início viraram mais de 400 milhões. O S&P 500, no mesmo período, cresceu “apenas” 184 vezes.
Mas o verdadeiro feito não está apenas no retorno, e sim na constância. Buffett enfrentou todas as crises modernas, incluindo a inflação dos anos 70, o crash de 1987, a bolha da internet, a crise de 2008 e a pandemia. Ele atravessou cada tempestade sem abandonar seus princípios. Suas cartas refletem essa trajetória de serenidade e convicção.
A filosofia que emerge das cartas
Em mais de meio século, alguns temas aparecem repetidamente e moldaram a cultura da Berkshire e de milhares de investidores pelo mundo.
1. Pense como dono, não como trader
Buffett nunca investiu para adivinhar o mercado. Ele compra negócios que entende, com líderes confiáveis e vantagens duradouras. Seu horizonte não é trimestral; é geracional.
2. Disciplina é mais rara que inteligência
Um dos trechos clássicos diz que o investidor precisa de temperamento adequado muito mais do que de um cérebro extraordinário. Para Buffett, o maior inimigo do investidor é o próprio investidor.
3. O capital tem um custo e o tempo também
Buffett sempre escreveu que o retorno ideal é aquele obtido com paciência e coerência. Seus textos lembram ao leitor que nem todo crescimento é bom e que nem toda oportunidade merece ação.
4. Integridade é ativo não depreciável
Buffett repetiu inúmeras vezes que prefere perder dinheiro a perder reputação. Seus gestores são escolhidos não apenas pela capacidade, mas pelo caráter.
5. Transparência é a forma mais elevada de respeito
Ao contrário de cartas corporativas polidas e genéricas, Buffett expõe erros, decisões equivocadas e aprendizados. Ele escreve para explicar, não para agradar.
A carta final: o legado em primeira pessoa
Em sua última carta, publicada em novembro de 2025 , Buffett fecha o ciclo com um texto mais humano do que técnico. Ele reconhece a idade, agradece o caminho percorrido e diz que “vai silenciar aos poucos”. Mas reforça que a filosofia da Berkshire não muda: responsabilidade, paciência, simplicidade.
E deixa um conselho que talvez sintetize todo o seu pensamento: “Não se culpe demais pelos erros do passado. Aprenda um pouco com eles e siga em frente. Nunca é tarde demais para melhorar.”
Por que essas cartas importam tanto?
Porque são mais do que análises financeiras. São reflexões sobre comportamento, humildade, racionalidade e propósito. São lembretes de que os mercados mudam, mas a natureza humana não, e por isso os princípios de Buffett permanecem relevantes.
Cada carta é uma pequena cápsula de sabedoria atemporal. Cada página é um convite à introspecção. E cada ensinamento é uma bússola para navegar o ruído permanente dos mercados.
Mais do que os bilhões gerados, Buffett deixa um legado de lucidez. Em tempos de velocidade, suas cartas oferecem profundidade. Em eras de ansiedade, elas oferecem paciência. Em mercados movidos por promessas rápidas, elas reafirmam a beleza do longo prazo.
Ao revisitar suas palavras, entendemos que o segredo de Buffett nunca esteve em prever o futuro, mas em compreender o presente com absoluta honestidade — algo raro, valioso e, como todo ativo escasso, profundamente admirado.
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