Como o clima deixou de ser tema ambiental e passou a influenciar o câmbio, os juros e o valor das empresas? Descubra nesse novo artigo de Martin Iglesias.
Quando líderes globais se reúnem nas conferências do clima, como a COP 30 em Belém, que teve início hoje, eles não discutem apenas o meio ambiente – mas também o futuro da economia. Foi o economista americano William Nordhaus, ganhador do Nobel de 2018, quem mostrou como o clima entrou nas equações macroeconômicas.
Antes dele, o aquecimento global era tratado apenas como uma externalidade negativa, sem ser incorporado formalmente aos modelos macroeconômicos. Nordhaus provou que emitir carbono tem custo econômico real, medido em perdas de produtividade, danos à infraestrutura e impactos sobre o PIB. Seu modelo DICE (Modelo Dinâmico Integrado de Clima e Economia, em tradução livre) conectou duas variáveis até então separadas – crescimento e temperatura – e levou à ideia do “preço ótimo do carbono”, o valor que iguala o custo marginal de reduzir emissões ao benefício social de evitar os danos do aquecimento global.
Com base nessas ideias, políticas públicas e instrumentos financeiros começaram a surgir. Governos e empresas passaram a dar preço ao carbono. Na Europa, o mercado regulado (EU ETS) já movimenta mais de US$ 800 bilhões por ano. No Brasil, ainda estamos em estágio inicial, mas o MBRE, o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões, em criação pelo governo brasileiro, com participação do Banco Central, do Ministério da Fazenda e do Ministério do Meio Ambiente, promete padronizar e registrar créditos de carbono, tornando-os ativos financeiros negociáveis.
Enquanto isso, o mercado voluntário cresce em plataformas como MOSS e Carbonext, com créditos lastreados em reflorestamento e energia limpa. Cada crédito equivale a uma tonelada de CO₂ compensada, e o preço varia conforme a qualidade e a origem do projeto. O potencial brasileiro é enorme: temos a matriz energética mais limpa entre as grandes economias e um patrimônio florestal inigualável.
Essa transformação se conecta à ascensão das finanças sustentáveis. Os investimentos ESG deixaram de ser tendência e viraram critério essencial. Gestoras e fundos de pensão aderiram aos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) da ONU, e as empresas passaram a divulgar relatórios ESG com informações sobre emissões, consumo de energia e políticas de diversidade. Não é apenas reputação: é risco e retorno. Empresas com passivos ambientais elevados podem enfrentar barreiras comerciais e menor acesso a capital.
No fundo, Nordhaus mostrou que crescimento e sustentabilidade não são opostos. Quando o carbono tem preço, investir em inovação e energia limpa passa a ser racional, não apenas ético. Essa mudança redefine o próprio conceito de eficiência econômica. O mercado, que sempre precificou risco e retorno, agora aprende a precificar o planeta.
O carbono, antes invisível, ganhou valor, liquidez e código de negociação. E entender essa nova linguagem talvez seja a forma mais inteligente de proteger, ao mesmo tempo, o portfólio e o planeta.
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